25 de abril de 2016

maus lençóis

é só um murro em ponta de faca
pra faca fazer valer
e se puder não faça
pois sempre tem um pra fazer
o depois da ameaça

prato de urubu é o mundo
e o bico do urubu é sommelier
de tudo no mundo
que nasce pra se morrer

hoje eu acordei cansado
de tanto dar um prego em barra de sabão
pra sobreviver hoje eu prego em pedra
mas no meu passado já preguei muita mão

só quem sabe do seu canto
é que se difere de um azulão
vivo ele voa pra fazer seu ninho e procura
um galho pra se manter

a resposta que vocês
tanto esperam, outra vez
tá perdida em maus lençóis
o que será de nós?

quem quiser ferir com ferro
saiba que a ferrugem mancha sua mão
mire muito bem antes da tentativa
pois se você erra
o outro num erra, não

peixe nunca viu navio
por isso que ele pensa que isso é um tubarão
o homem fica vaidoso com seu feito
vendo peixe se contorcer

paralisia do sono

sonhei que havia possibilidade maior
de medo e discordância
você chamou
minha atenção
e eu despertei em partes

pulsei de relance
outras imagens aqui
como se só existisse escuridão
tem nada não
o resto é inventado

paralisia
foi o que sobrou
à revelia
de mim

vi todas as sombras
quando à pino
o sol acordou
e o que era claro pareceu perder
toda razão
e eu fiquei preocupado

numa rede, preso
pensei que iria acordar
como peixe na areia
até tentei
me debater
inútil resultado

asfixia
vou me contentar
com agonia
do despertar

saiba se a porta está escancarada 
não é um convite para se entrar
bata palma e espere
e se não há resposta
procure alguém a volta para lhe mostrar os dedos
e dizer que está tudo bem
e dizer que está tudo bem
e dizer que está tudo bem
e dizer que está tudo bem

paralisia
foi o que restou
à revelia
de mim

21 de março de 2016

Leva e traz

O que trago de novo
não condiz com suas expectativas
que estão, inclusive, associadas
às variações semânticas do verbo trazer
mal conjugado

O que levo de volta
não cabe no bolso de minha camisa
pois, apesar de eu estar levando
não há nada que prove que isso
é mesmo coisa muito leve

temporada de caça

Há pistas relevantes que nos levariam ao paradeiro procurado
E artistas iniciantes que contestariam o verdadeiro significado
O óbito é dúvida e alento aos irreconhecíveis inimigos
E sobe, tu, os mais de mil e cem degraus dos mais temíveis perigos

A esperança confia em ditados como se fossem fielmente comprovados
Nessa dança sabiam que atados os olhos não eram devidamente procurados
Meus pés se confundem aos calos quando jurei minha vingança
O revés de um ganhador de automóveis que nada mais é que uma criança

É pura festividade na praça
A poeira é temporada de caça
Mas faça dessa tarde rubra
Sua hora de apelo e graça
Antes que o tempo o faça
e descubra

O homem e seu bigode estacionados no caminho do aeroporto
Comem enquanto o suor de corpos freados vizinhos ao amigo morto
Saúdam em brindes opacos àquela felicidade contagiante
O baú dá melhores percalços quando o que está embalado é viciante

É exposto à chuva, vento e poeira de canteiro-de-obra
Como o rosto de um gavião ao se encontrar com um ninho de cobra
Me vingo como se não soubesse dessa capacidade
Domingo tem mais, quem desce é quem sofre nessa cidade

É pura festividade na praça
A poeira é temporada de caça
Mas faça dessa tarde rubra
Sua hora de apelo e graça
Antes que o tempo o faça
e descubra

16 de agosto de 2015

o escorbuto dos piratas

o escorbuto dos piratas
falta de vitamina c
de montila ninguém vive
mas a culpa é de você

a minha cidade é triste
porque não soube crescer
em 1979 ponta negra
ninguém vê

se felipe camarão
soubesse que iria ser
só um bairro perigoso
lutaria na tv

que a tv paga bem mais
e esconde muito bem
o terror que se anuncia
e quase nunca me convém

quem plantou os flamboyants
que os homens vão cortar
está laranja como a fruta
que os piratas vão chupar

nossa van filosofia
não sabe mensurar
o peso dessa cidade
que não para de inflar

se você fosse sincera
uma marchinha valeria
mas no baldo, um acidente
acabou nossa folia

força aérea americana
vem trazendo novidade
ao invés de míssil poderoso
cadê minha liberdade

toda falta de padrão
das calçadas me faz crer
que andar pelo asfalto
lembra as falta de você

pois o perigo me espera
e quando eu saio da caverna
é para ver os meus amigos lá

estamos na era mesozóica
na terra da falta de semiótica
só se vê aquém do mar

vinho dom bosco é forte mesmo
toda manhã é que eu me lembro
não vale a pena começar

18 de julho de 2015

picolé caseiro de caicó

subi a branca duna, fina, linda e pura
mais pura duna branca que eu nunca vira
ouvirás o fato de amolecer rapadura
tá me parecendo que é algo de dom de cura
fura o meu peito dilaceradamente na mira

no balançado o punho dá 5 rangidos
mais que o suficiente pra eu conseguir parar
vou caminhando nas bases dos teus tecidos
saúdo os olhos que por mim foram lidos
lido com a falta deles quando os meus querem fechar


11 de julho de 2015

bolso de vovó

o que será que tem
no bolso de vovó
que cirinho ouve tilintar
tilinta, tilinta
descendo a ladeira
cintila, cintila
voltando de lá

mas que bolso grande
florido, cabe tudo dentro
cabe umas pratinha pra coca
confeito, algodão e coentro

vovó
a senhora tem uma moedinha sobrando
ela fingia não saber que tinha
botava a mão no bolso
e procurava
era um vestido florido
que nunca vi ninguém vesti
e as mocinhas ainda tentam
sabem que florir vestido é fácil
anexar bolsos que é complexo
é calmo como a tardinha
sereno, tranquilamente
no ritmo de dona autinha